quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Nomenclatura e taxonomia

Relações filogenéticas do gênero Cyanopsitta


Cyanopsitta



Orthopsittaca



Primolius


Ara




Cladograma inferido das sequências de DNA mitocondrial e nuclear proveniente de Tavares et al., 2006.
A primeira descrição da espécie foi feita por Johann Baptist von Spix em 1824 com o nome de Arara hyacinthinus.[2] No entanto, o epíteto específico estava pré-ocupado pelo Psittacus hyacinthinus descrito por John Latham em 1870.[3] Johann Georg Wagler, que foi assistente de von Spix na publicação do livro de 1824, substituiu o nome científico da espécie para Sittace spixii em 1832.[4] Em 1854, Charles Lucien Bonaparte descreve um novo gênero para a espécie, o Cyanopsitta, e recombina o nome científico para Cyanopsitta spixii.[5]
Ocasionalmente, a espécie foi inserida no gênero Ara.[6][7] Helmut Sick (1997) não considerava a Cyanopsitta spixii como uma arara, devido a um maior relacionamento com as jandaias.[8] No entanto, análises moleculares demonstraram que o gênero Cyanopsitta está relacionado com os gêneros Primolius, Ara e Orthopsittaca e constitui um gênero distinto dos demais.[9]

Distribuição e habitat

A espécie ocorria principalmente na margem sul do rio São Francisco em matas de galerias dominadas por caraibeiras (Tabebuia aurea). A área de registro histórico está situada na região do submédio São Francisco no noroeste da Bahia entre as cidades de Juazeiro e Abaré.[10] Os únicos registros confirmados estão nas proximidades da cidade de Juazeiro, onde o holótipo foi coletado em abril de 1819 por von Spix durante a Expedição Austríaca ao Brasil, e na área do riacho Barra Grande-Melância no município de Curaçá, onde alguns indivíduos foram redescobertos em 1985-1986 e posteriormente em 1990.[10][11] Um registro não confirmado indicou também a presença da ave no riacho da Vargem situado nos municípios de Abaré e Chorrochó.[11][12] O único registro, baseado em informação local, ao norte do rio São Francisco no estado de Pernambuco, é proveniente do riacho da Brígida localizado nos municípios de Orocó e Parnamirim.[10][12]
Alguns autores consideravam a distribuição da ararinha-azul associada com os buritizais, indicando uma área de distribuição no sul do Piauí, extremo sul do Maranhão, noroeste de Goiás (hoje Tocantins), noroeste da Bahia e extremo sudoeste de Pernambuco.[13][14][15] Foi somente na década de 80 com a redescoberta da arara que observou-se que o habitat preferencial da ave estava associado com a caraibeira, que está restrita a margens e várzeas de riachos estacionais existentes na Caatinga, especialmente no submédio São Francisco.[11][12]

Características

Gravura de 1878.
A ararinha-azul mede de 55-60 centímetros de comprimento, possui uma envergadura de 1,20 metros e pode pesar de 286 a 410 gramas.[16] A plumagem possui vários tons de azul. O ventre tem um tom pálido a esverdeado enquanto o dorso, asas e cauda tons mais vividos. As extremidades das asas e cauda são negras. A fronte, bochechas e região do ouvido são azul-acinzentados.[17] O loro e o anel perioftálmico são nus e a pele é de coloração cinza-escura nos adultos.[17] A cauda é proporcionalmente mais longa e as asas mais longas e estreitas que as demais araras.[8] O bico é inteiramente negro e os pés marrom-escuro a negro. A íris é amarela.
O juvenil se diferencia do adulto por apresentar a cauda mais curta, a íris cinza, a faixa nua na face mais clara e uma faixa branca na frente do cúlmen do bico.[18][17] Essas diferenças desaparecem quando a ave atinge a maturidade sexual. Apresenta dimorfismo sexual, sendo as fêmeas menores que os machos, quanto a plumagem não há diferenças.[17][18]

Ecologia e comportamento

Semente da faveleira.
Informações sobre a ecologia e comportamento da ararinha são limitados, já que as pesquisas só começaram na década de 80, quando somente três indivíduos restavam na natureza.[19] A alimentação era composta principalmente de sementes de pinhão-bravo (Jatropha mollissima) e faveleira (Cnidoscolus quercifolius) que representavam cerca de 81% da dieta.[12] Outros fontes alimentares incluíam as vagens da Tabebuia aurea e da baraúna (Schinopsis brasiliensis), e os frutos do joazeiro (Zizyphus joazeiro). A estação reprodutiva estava relacionada com a época das chuvas, ocorrendo de outubro a março. A espécie era dependente de árvores da espécie Tabebuia aurea onde nidificavam.[12] O ninho era feito em ocos naturais ou feitos por pica-paus (Campephilus melanoleucos) e normalmente de dois a três ovos eram postos. Relatos feitos na observação do último exemplar na natureza, revelou que a espécie pernoitava em facheiros (Pilosocereus spp.), possivelmente para proteção.[12]

Conservação

A ararinha-azul é classificada pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) como "em perigo crítico" (possivelmente extinta na natureza)[1], na Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção (CITES) aparece no "Appendix I"[20] e pelo Ministério do Meio Ambiente como extinta na natureza desde 2002.[21]
O declínio populacional da espécie está associado com a perda do habitat, competição com abelhas africanizadas por ninhos, caça e tráfico de filhotes.[22] Durante as últimas décadas, o tráfico ilegal foi possivelmente a principal causa da extinção da espécie na natureza.[23]
O maior responsável pelo desaparecimento desta ave é o homem devido ao intenso tráfico. Os compradores são atraídos pela sua bela cor azul e principalmente pela ganância de possuir uma espécie tão rara. Um exemplar da ararinha-azul chega a custar no mercado negro milhares de dólares.
Atualmente existem apenas 87 exemplares da ararinha-azul no mundo, o que a torna uma das mais raras espécies vivas. Destes, apenas oito podem ser encontrados no Brasil, sendo que dois estão no zoológico de São Paulo. Apesar de serem um casal, as ararinhas-azuis do Zoológico de São Paulo nunca tiveram filhotes.

Cativeiro

Instituições Localidade Machos Fêmeas Desconhecido Total
Al Wabra Wildlife Preservation (AWWP) Catar Al Shahaniyah 22 34 0 56
Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP) Alemanha Berlim 0 2 0 2
Fundação Parque Loro (LPF) Espanha Tenerife 3 5 0 8
Fundação Lymington (LF) Brasil São Paulo 2 1 0 3
Fundação Parque Zoológico de São Paulo (FPZSP) Brasil São Paulo 2 2 0 4
Total
29 44 0 73

Aspectos culturais

Em 2011, o filme de animação Rio teve como personagem principal uma ararinha-azul.[24]

Referências

  1. a b BirdLife International (2010). Cyanopsitta spixii (em Inglês). IUCN 2011. Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN de 2011 Versão 2011.1. Página visitada em 15 de agosto de 2011.
  2. SPIX, J.B.. Avium species novae, quas in itinere per Brasiliam annis MDCCCXVII- MDCCCXX jussu et auspiciis Maximiliani Josephi I. Bavariae Regis suscepto collegit et descripsit Dr. J. B. de Spix. Munique: Typis Francisci Seraphi Hybschmanni, 1824. 90 p. vol. I.
  3. LATHAM. J.. Index orntihologicus, sive Systema ornithologiae; complectens avium divisionem in classes, ordines, genera, species, ipsarumque varietates: adjectis synonymis, locis, descriptionibus , &c. Londres: [s.n.], 1870. p. 84. vol. I.
  4. WAGLER, J.G.. Monographia psittacorum. Abhandlungen der Mathematisch-Physikalischen Klasse der Königlich Bayerischen Akademie der Wissenschaften. Munique: Bayerische Akademie der Wissenschaften, 1832. 807 p. vol. 1.
  5. BONAPARTE, C.L.. (1854). "Tableau des Perroquets". Revue et Magasin de Zoologie Pure et Applique Series 2 (6): 145-158.
  6. PETERS, J.L.. Checklist of Birds of the World. Cambridge: Harvard University Press, 1937. vol. 3.
  7. COLLAR, N.J.. Family Psittacidae (Parrots). In: del HOYO, J.; ELLIOTT, A.; SARGATAL, J.. Handbook of the Birds of the World. [S.l.]: Lynx Edicions, 1997. 679 p. p. 419. vol. 4.
  8. a b Sick
  9. TAVARES, E.S.; BAKER, A.J.; PEREIRA, S.L.; MIYAKI, C.Y.. (2006). "Phylogenetic Relationships and Historical Biogeography of Neotropical Parrots (Psittaciformes: Psittacidae: Arini) Inferred from Mitochondrial and Nuclear DNA Sequences". Systematic Biology 53 (3): 454-470.
  10. a b c COLLAR, N.J.; GONZAGA, L.P.; KRABBE, N.; MADROÑO NIETO, A.; NARANJO, L.G.; PARKER III, T.A.; WEGE, D.C.. Threatened Birds of the Americas. Cambridge: Smithsonian Institution Press of Washington and London/International Council for Bird Preservation, 1992.
  11. a b c JUNIPER, A.T.; YAMASHITA, C.. (1991). "The habitat and status of Spix's Macaw (Cyanopsitta spixii)". Bird Conservation International 1: 1-9.
  12. a b c d e f MACHADO, A. B. M; DRUMMOND, G. M. & PAGLIA, A. P. (eds) Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. 2008, 1420 p. 1.ed. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente; Belo Horizonte, MG: Fundação Biodiversitas, 2008.
  13. RIDGELY, R.S. (1981) The current distribution and status of mainland neotropical parrots. PP. 233-384 in R. F. Pasquier, ed. Conservation of New World Parrots. Washington, D.C.:Smithsonian Institution Press for the International Council for Bird Preservation (Techn. Publ. 1).
  14. SILVA, T (1989) A monograph of endangered parrots. Pickering, Ontario: Silvio Mattacchione and Co.
  15. FORSHAW, J.M.; COOPER, W.T.. Parrots of the World. 3 ed. [S.l.]: Lansdowne Editions, 1989. 672 p. ISBN 9780701828004
  16. ADW
  17. a b c d FORSHAW, J.M.. Parrots of the World. [S.l.]: Princeton University Press, 2010. 336 p. ISBN 9780691142852
  18. a b Plano de ação
  19. Yves de Soye pers. com. via ArKive
  20. CITES (2008). Appendices I, II and III. CITES. Página visitada em 17 de agosto de 2011.
  21. MMA03
  22. JUNIPER, A.T.; YAMASHITA, C.. (1991). "The conservation of Spix's macaw". Oryx 24: 224-228. DOI:10.1017/S0030605300034943.
  23. CAPARROZ, R.; MIYAKI, C.Y.; BAMPI, M.I.; WAJNTAL, A.. (2001). "Analysis of the genetic variability in a sample of the remaining group of Spix's Macaw (Cyanopsitta spixii, Psittaciformes: Aves) by DNA fingerprinting". Biological Conservatiom 99 (3): 307-311. DOI:10.1016/S0006-3207(00)00196-8.
  24. ALBUQUERQUE, G. (06/04/2011). Espécie em extinção, ararinha-azul é a estrela da animação "Rio". UOL Notícias. Página visitada em 25 de agosto de 2011.

Ligações externas

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